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Mercado

18Mar2014

Preço do trigo sob pressão

Oano de 2014 começou com cenário turvo para donos de moinhos e industriais de massas, biscoitos e panificação do Nordeste. O encolhimento na oferta de trigo (em função de problemas climáticos na Argentina) foi agravado pela tensão geopolítica na Ucrânia. Os vizinhos argentinos são os principais fornecedores da matéria- prima para a região e a Ucrânia é o terceiro maior player mundial do setor. O mercado não aposta em desabastecimento, mas numa escalada frenética dos preços. Só em março, a cotação da tonelada na Bolsa de Chicago já subiu 11,25%, chegando a R$ 696,25 (pela cotação de ontem). Vai sobrar para o consumidor, que vai continuar convivendo com a inflação dos alimentos ao longo de 2014.

“Esse ano começou ainda pior para o setor moageiro, com três fatores impactando os preços. O primeiro é a persistência da quebra de safra na Argentina. Nessa época, em 2013, os argentinos já tinham enviado 3 milhões de toneladas para o Brasil. Nesse trimestre só desembarcaram 1,5 milhão”, compara o diretor corporativo da M.Dias Branco, Luiz Eugênio, que esteve no Recife na semana passada para participar da Feira Norte-Nordeste de Panificação (Fennopan).

Além dos problemas na Argentina, o executivo também enumera questões de ordem política e econômica. No ano passado, o governo federal zerou a Tarifa Externa Comum (TEC) para o trigo importado de fora do Mercosul. Antes da crise do grão na Argentina, matéria-prima importada de fora do bloco pagava taxa de 10% para entrar no Brasil. O governo permitiu uma cota de 3,7 milhões de tonelada no ano passado. “Para esse ano a permissão ainda não foi renovada e para importar trigo dos Estados Unidos e do Canadá é preciso arcar com a tarifa. ESPERAMOS QUE O GOVERNO SE SENSIBILIZE E LIBERE A TEC DEFINITIVAMENTE, PORQUE A ARGENTINA JÁ DEMONSTROU QUE NÃO TEM COMO ATENDER O MERCADO BRASILEIRO”, afirma Eugênio. O terceiro complicador na lista dos empresários do setor é a valorização do dólar, que no ano passado ainda era negociado a R$ 2,20 e esse ano já está oscilando entre R$ 2,35 e R$ 2,40.

Fora tudo isso, o momento político na Ucrânia também preocupa os compradores sobre a produção e a exportação de trigo do país. A produção ucraniana abastece a Europa Oriental e o Oriente Médio. “Se a Ucrânia não conseguir escoar sua produção, a competição mundial vai ficar maior pelo cereal nos Estados Unidos e no Canadá, aumentando a oferta e pressionando os preços”, analisa o diretor da M.Dias Branco, maior abricante de massas e biscoitos do Brasil. A companhia conta com quatro moinhos no Nordeste (Fortaleza, Natal, João Pessoa e Salvador) e está construindo outros três no Recife, em Fortaleza e em Bento Gonçalves (RS), com previsão de operar em 2016. A empresa contabiliza aumento de 20% no preço da farinha de trigo só entre dezembro e março. A indústria ainda está fazendo os cálculos dos repasses para os segmentos de massas e biscoitos nos próximos meses.

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