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25Dez2011

Pimentão é produto com mais agrotóxico

PESQUISA Estudo feito em Pernambuco mostra que hortaliça lidera a lista de alimentos com maior quantidade de defensivos agrícolas, assim como no ranking

Pelo terceiro ano consecutivo, o pimentão lidera a lista dos produtos com maior quantidade de agrotóxicos. Assim como na pesquisa divulgada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em que o alimento aparece como campeão brasileiro de irregularidades, a hortaliça também assume a liderança no Estado.

Segundo o relatório da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), das 84 amostras de pimentão analisadas nos últimos dois anos, 73,8% apresentaram níveis de agrotóxico acima do recomendável. O tomate desponta no segundo lugar, com 56,92% e a alface em terceiro, com 35,6%.

Ao todo, foram analisadas 453 amostras de 12 alimentos e, pelo menos, 33% delas apresentaram alguma irregularidade, como grande quantidade de agrotóxico ou substâncias não aprovadas para determinados cultivos. Um dos exemplos é o uso de um veneno recomendado para combater pragas no plantação de feijão sendo colocado no abacaxi.

Na outra ponta do relatório aparece a banana, com índice zero de contaminação. A uva foi incluída na pesquisa há um ano, mas já apresentou um resultado preocupante. Das oito amostras analisadas, cinco apresentaram resíduos de agrotóxicos. Dos vegetais analisados, 264 foram coletados no Centro de Abastecimento Alimentar de Pernambuco (Ceasa-PE), os demais são provenientes das maiores redes de supermercados do Grande Recife.

Quanto ao uso dos agrotóxicos, em 50% (342) dos casos foi detectada a presença de inseticidas, 47% (324) de fungicidas e 3% (18) de acaricidas. Embora a quantidade de veneno para controlar a presença de insetos seja superior, a dificuldade em tratar doenças causadas por fungos provoca o uso de fungicidas de maneira indiscriminada. A prática pode causar morte dos predadores naturais, alteração das populações de insetos e o aparecimento de espécies mais resistentes.

Para a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Lia Giraldo, o grande fator responsável pelo abuso de agrotóxicos é o modelo produtivo executado no País. "Cuida-se mal do solo e as riquezas naturais são perdidas. O manejo incorreto fragiliza a terra e os produtores recorrem ao uso abusivo de agrotóxico para manter as plantações", explica.

"O problema é que isso nos expõe a uma enorme insegurança alimentar. A exposição de agrotóxicos a que somos submetidos ao longo da vida é muito alta e isso pode provocar alterações celulares, por exemplo. Alguns desses males são irreversíveis", alerta a pesquisadora.

"O importante é mudar o modelo produtivo e adotar uma política integrada, entre governo e agricultores, para garantir mais segurança no cultivo dos alimentos", defendeu Lia.

Nas culturas, foram encontrados resíduos de substâncias sem registro e proibidos no País e que, provavelmente, entraram de maneira ilegal no Brasil. A ingestão de comida com excesso de agrotóxicos de forma prolongada pode causar câncer, problemas neurológicos e má formação fetal. Pesquisas recentes apontam que a exposição prolongada a essas substâncias pode gerar doenças no sistema nervoso.

De acordo com Jaime Brito, gerente-geral da Apevisa, as medidas de combate ao uso de agrotóxicos são forte em Pernambuco, quando comparadas com as de outros Estados. O problema, segundo ele, é que os produtores burlam a legislação. "Quando detectamos irregularidades nos alimentos proibimos a entrada e suspendemos a licença do revendedor, mas ele arranja outra pessoa, registra, e continua vendendo", explicou.

Em uma amostra de pimentão foi detectada a presença de resíduos de Difenildicloroetano (DDT), substância que, por causa da alta persistência no meio e ameaça para a saúde humana e animal, foi proibida em todo o território nacional em 1985.

Com relação à entrada dos agrotóxicos proibidos, Jaime mencionou que em 2008 a Anvisa tentou reavaliar 14 produtos. No entanto os produtores recorreram à Justiça. "Não existe uma medida preventiva para analisar os produtos e isso só é feito se houver algum surto ou suspeitas em torno de uma determinada substância", afirmou.

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