Na foto ao lado, no alto, Gil caminha sobre sua propriedade, com sua 4 por 4, como ele chama a bota de borracha. São sete hectares com 180 mil pés de abacaxi. Plantados um a um, em dezembro passado, com a ajuda de 14 trabalhadores. Nada causa mais alegria, hoje, naquele agricultor do que admirar e cuidar do plantio. Severino Amaro Tenório, o Gil, tem 47 anos, dos quais 25 dedicados à abacaxicultura. Ele não vai poder ler esta matéria, porque, como revelou: Eu não tenho leitura, né?. E, ainda menino, concluiu: O que é que eu vou fazer na cidade se não sei ler? Então eu aprendi tudo na roça. Amo isso aqui, diz, emocionado, com sorriso tímido no rosto. Não posso abrir tanto a boca, porque não tenho dentes, disse ele, sem rodeios, respondendo o pedido da fotógrafa para não ficar tão sério.Gil investiu tudo o que tinha (e o que não tinha pegou emprestado do governo) naquele plantio. Plantou no roçado R$ 60 mil. Vendi gado, usei minhas economias, tô liso! Botei tudo aqui (na plantação da foto). Ele espera apurar pelo menos R$ 130 mil, na hora da colheita, em janeiro de 2012. O abacaxi de Gravatá e de Pombos (cidade onde existe a Festa do Abacaxi) só dá uma safra. Na Paraíba, tido como o maior produtor da fruta no Nordeste, são duas. Lá, a terra (e o terreno plano) é mais propícia.
Aqui, os agricultores dão uma mãozinha, com produtos químicos. Agrotóxico é ruim para a terra, eu sei. Mas todo agricultor usa, seja onde for. Se não, pode dar perda total, diz Gil. Além do agrotóxico, os agricultores também usam carbureto para amarelar o abacaxi, acelerando o amadurecimento. Assim, controla-se a colheita e o abacaxi é colhido quando o produtor quiser. Abacaxi dá todo ano, mas o melhor é agora (segundo semestre). Essa história de Gravatá ser a terra do morango é imaginação do povo!, diverte-se Gil. Com o dinheiro da fruta, ele conta que dá estrutura à família e passeia. Ele já conheceu o Rio de Janeiro, São Paulo e Natal.
A terra de Gil fica no distrito de Lagoa Queimada, a 18 quilômetros do centro de Gravatá. O acesso é difícil e agravado com as recentes chuvas. A esposa dele, Joselma, é a vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Gravatá. Fez questão de estar no local com o presidente da entidade, José Mário Costa. Quase todo agricultor pega empréstimo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Cada um pode tirar até R$ 15 mil com juros de 2% ao ano, explica Mário. Gil tirou R$ 6,2 mil.
O agricultor José Paulo dos Santos, 24 anos, há nove na atividade, conta que tirou um empréstimo de R$ 9 mil. Quando a reportagem chegou em sua propriedade, ele contava abacaxis. Totalizou 5 mil. Tudo empilhado na boleia do caminhão que seguiu para o Centro de Abastecimento Alimentar de Pernambuco (Ceasa) do Recife e de Caruaru. Paulo apurou R$ 3 mil com a venda. E lá se foi um ano de trabalho. Parte do dinheiro é para pagar as contas de casa e a outra é reinvestido no roçado. O jovem complementa a renda trabalhando como mototaxista, no centro da cidade. Ganho muito mais com a moto, mas o abacaxi é uma coisa da família, aprendi com meu pai.
Um dos maiores produtores de abacaxi da região é Adeílson José Bento, 47 anos. Começou no negócio com 17. O plantio dele fica no distrito de Maria Isabel. Estava no local esta semana para mais uma colheita em 180 mil pés de abacaxi. Vou tirar uns R$ 130 mil. Foi muito bom. Para a próxima safra, daqui a um ano, Adeílson plantou 300 mil pés. Espera apurar R$ 250 mil. O abacaxi desse agricultor sai mais caro, a R$ 1 porque o produto não passa pelo atravessador. Ele tem dois caminhões e faz a entrega.
A conta para o produtor de abacaxi é a seguinte: uma carrada de muda da fruta (também chamada de fiação) varia de R$ 500 a R$ 800. Dá algo em torno de 20 mil mudas. Para os 7 hectares da plantação de Gil, por exemplo, foram 22 sacos de adubo. Um dia de um trabalhador custa R$ 30. Some-se a isso R$ 250 de agrotóxico (20 litros). No final, cada abacaxi é vendido entre R$ 0,20 e R$ 0,80, podendo chegar a R$ 1,20. No supermercado, chega a custar R$ 3.