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26Set2011

Meninos de engenho

Se as condições climáticas continuarem regulares, o Nordeste deve colher nasafra2011/2012 cerca de 65 milhões de toneladas de cana, um aumento de 3% a 4% em relação à safra passada. Pernambuco é o segundo maior produtor de cana do Nordeste. O açúcar, que é responsável por 40% da pauta comercial do Estado, é fruto do trabalho de cerca de 100 mil pessoas empregadas nas 22 usinas de açúcar e álcool de Pernambuco.

Contudo, as usinas do nosso Estado, especialmente as da Mata Sul, enfrentam um problema incomum ao resto do País: a dificuldade de se conseguir mão de obra. É que o Complexo Portuário de Suape já conta com 120 empresas instaladas, outras 30 estão em construção e mais de 20 irão surgir até 2014 em todos os cantos dos 13,5 mil hectares do complexo. Isso sem falar na FIAT e outras empresas que irão se estabelecer na Mata Norte.

Esse “boom” econômico tem levado a mão-de-obra canavieira para outros setores, como o da construção civil, metalurgia, portuário, dentre outros. As usinas pernambucanas vivem um momento curioso: é que nunca se investiu tanto nas melhorias das condições de trabalho, mas a mão de obra tem se tornado cada vez mais escassa. É a debandada dos trabalhadores para a “serra pelada” pernambucana: Suape e construção civil.

As usinas assinaram recentemente um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público do Trabalho, no qual são previstos diversas obrigações no intuito de se auferir melhorias significativas no ambiente de trabalho. O setor tem investido fortemente na segurança e saúde dos trabalhadores, além de implementar diversas melhorias nas condições de trabalho, ao passo em que algumas já concedem diversos benefícios indiretos aos seus laboristas, como plano de saúde e odontológico, cestas básicas, creches, dentre outros.

Mas é preciso entender que isso não tem sido suficiente para reter a mão-de-obra desse importante setor. Conquanto se reconheçam os avanços na relação capital x trabalho, é preciso repensar o instituto do contrato de safra e suas consequências. Os tempos mudaram!

Ora, entre trabalhar em empresas do complexo de Suape, mediante contrato de trabalho por prazo indeterminado, tendo a certeza do amparo do governo federal (seguro-desemprego) no caso de eventual demissão ou laborar na safra da cana-de-açúcar ficando desempregado durante os outros seis meses do ano, sem qualquer amparo do governo federal, por óbvio que o trabalhador escolherá a primeira opção.

Não entendo por qual motivo o governo federal, por exemplo, ampara o pescador profissional no período de proibição da pesca, concedendo o auxílio-desemprego e não faz o mesmo com o trabalhador canavieiro que contribui com o seu suor para esse importante setor da economia nacional.

Assim, o governo federal deveria amparar esses laboristas ao término do contrato de safra, concedendo o seguro-desemprego, tal qual faz com os pescadores. Caso contrário, as usinas não terão escolha, a não ser firmar com todo o staff, contratos de trabalho por prazo indeterminado, ainda que o evento (safra) seja sazonal, sob pena de não se encontrar mão de obra suficiente para o setor. E, obviamente, continuar investindo nas melhorias de condições de trabalho.

É bom que se diga que os trabalhadores a que me refiro, amam “as suas usinas”. Não desejam sair de lá. São homens - antes meninos -, criados naquelas terras, sentindo, desde cedo, o cheiro da moagem e o friozinho das seis horas da manhã. Eles querem continuar por ali. Não querem passar pelo que passou o personagem Carlinhos, em “Menino de Engenho”, obra-prima de José Lins do Rêgo, relatando a sua saída do querido engenho onde foi criado, para ir morar na cidade grande: “Adeus, adeus, adeus. E eu com o lenço branco, sacudindo. Os olhos se encheram de lágrimas. Cortava-me a alma a saudade do meu engenho. E o trem corria para o Entrocamento…”. É possível mudarmos o rumo desse trem. Vida eterna ao açúcar e ao etanol pernambucano!

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