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20Mar2012

Extensão rural em foco

O ensino de extensão rural nas universidades públicas brasileiras vem atravessando uma crise sem precedentes na história das ciências agrárias. Diminuição de carga horária, frágil interdisciplinaridade curricular, conteúdos programáticos ultrapassados são aspectos que transformaram a extensão rural num lugar de menor importância na formação de nível superior. Professores de outras áreas de conhecimento, que desconhecem o papel histórico do extensionista no desenvolvimento do meio rural, têm dilapidado esse patrimônio universitário de mais de 60 anos. É de tal maneira o isolamento infligido à disciplina e às atividades de extensão universitária na formação dos agrônomos, zootecnistas, engenheiros florestais, engenheiros de pesca, economistas rurais, veterinários, economistas domésticos e sociólogos rurais, que a saída apontada nos projetos político-pedagógicos tem sido desde a redução da sua carga horária à sua extinção da matriz curricular ou à sua expulsão para o conjunto das disciplinas ditas optativas.

Todo o esforço teórico e político que professores e pesquisadores desenvolveram na América Latina a partir do lançamento do livro Extensão ou comunicação?, de Paulo Freire, para arrancar a extensão rural dos ditames do difusionismo tecnológico está agora sob ameaça, também por fora das universidades. Os ventos da globalização dos mercados varreram a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater) e com ela as questões sociais, ambientais, técnicas e econômicas do meio rural diminuíram a sua força.

Em 2003, a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária (Pnater), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), foi um alento em meio ao remoinho. Ancorada na Agroecologia, a Pnater inova e abre possibilidades socioambientais e econômicas para os contextos populares excluídos do campo. Assim como investimento em ações para a atualização profissional e o desenvolvimento de pesquisas, apoio concreto a iniciativas de transição agroecológica e realização de seminários acadêmicos, que resultaram na criação do Fórum Nacional de Ensino da Extensão Rural.

Em 2010, as modificações feitas na Pnater diminuíram aquilo que havia de mais primoroso no Brasil contemporâneo: as possibilidades de um desenvolvimento rural sustentável e de segurança alimentar, dentro dos princípios da agroecologia. À luz dessa nova lei de Ater, com o objetivo de propor estratégias para o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pronater), o MDA, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf), vem realizando, desde 2011, debates preparatórios para a I Conferência Nacional sobre Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária. Trata-se de um momento político importante para se discutir também o futuro do ensino da extensão rural nas universidades brasileiras.

Neste sentido, será realizada no Recife a I Jornada de Ensino em Extensão Rural do Nordeste amanhã, no auditório do Departamento de Educação da UFRPE, das 8h às 18h. O objetivo da jornada é discutir o ensino da extensão rural nas universidades e nos institutos federais e sua relação com a política nacional de Ater.

O evento será no Recife. Poderão participar professores, pesquisadores e técnicos ligados à extensão rural.

Angelo Brás Fernandes Callou e Maria Salett Tauk Santos são professores da UFRPE

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