Ceasa Pernambuco

Mercado

17Jul2011

Dieta do brasileiro à mercê dos preços Dieta do brasileiro à mercê dos preços

O carrinho de compras do brasileiro está diferente. É o que aponta uma pesquisa da organização não-governamental Oxfam International, segundo a qual 55% dos 1.030 entrevistados do país não comem mais o que consumiam há dois anos. Pensa que tem a ver com saúde? Acertou, tem mesmo. Só que, neste caso, o mais importante é a saúde do bolso. De acordo com o estudo, o aumento dos preços dos alimentos foi a principal razão para as alterações nos cardápios. O quadro é global, repetindo-se em dez das outras 16 nações analisadas.

Dentre os brasileiros que mudaram sua dieta nos últimos dois anos, 34% disseram que o fizeram devido aos altos preços dos alimentos. O segundo motivo mais citado foi a saúde (31%). Na sequência, aparecem a preocupação com o modo de produção da comida (19%), o fato de não gostar mais daquele produto (10%) e a menor disponibilidade dele no mercado (7%).

A psicóloga Verônica Ferreira está no grupo de quem mudou a alimentação por causa do peso… no bolso. De um ano para cá, ela reduziu o consumo de carnes e aves em casa, motivada não só pela preocupação com a saúde, como, também, pelos preços desses itens. Recentemente, vem apelando para a criatividade. “Agora, tento trocar essas comidas por outras. O cuscuz, por exemplo, a gente comia com charque. Agora, é com banana”, conta.

De acordo com a coordenadora de campanhas da Oxfam no Brasil, Muriel Saragoussi, o resultado não surpreende. “A gente sabe que os preços dos alimentos, que vinham caindo nas décadas de 1970, 1980 e 1990, têm crescido nos últimos anos, principalmente por conta da crise internacional e do aumento de eventos catastróficos ligados às mudanças climáticas”, afirma. Segundo ela, os beneficiados por programas sociais recentes, como o Fome Zero, estão entre os que mais sentem a inflação. “Nos últimos oito ou nove anos, um grupo grande começou a consumir coisas que não tinha acesso, mas, de 2009 para cá, está sendo impactado pelo preço e deixando de comprar esses itens.” Vale salientar que todos os brasileiros entrevistados na pesquisa têm renda mensal de até R$ 5 mil.

Diante da impossibilidade de manter o consumo de certos produtos, o caminho encontrado por muitos é a substituição. A professora de economia Tatiane Menezes, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), explica que a mudança de dieta por razões financeiras é uma prática comum. “A pessoa sabe quanto vai gastar e escolhe os itens que cabem no seu orçamento.” Segundo ela, os bens do grupo “alimentação” podem ser substitutos ou complementares. No primeiro caso, quando o produto X (presunto, por exemplo) fica mais caro, a tendência é que o consumidor o troque por Y (mortadela). No segundo, o que varia é a quantidade. Se o preço de X sobe, reduz-se o consumo de Y. É mais ou menos a relação entre pão e manteiga.

Notícias