Ceasa Pernambuco

Mercado

27Out2014

Agricultura familiar promove o sustento de mulheres do campo

“Dá para ver minha idade elas minhas mãos. Quando u me aposentar, vão saber o empo que trabalhei por conta delas”, conta a agricultora Josefa Maria Oliveira, e 44 anos, entre um atendimento e outro, durante a eira de Orgânicos que acontece no Ceasa. Zefinha, como conhecida, é um dos exemplos de mulheres que descobriram a autonomia por meio da agricultura familiar e, com as próprias mãos, romperam o nó que um dia existiu entre gêneros na Zona rural. “Antigamente, as mulheres ficavam mais em casa, cuidando dos filhos. Hoje, acho que elas perceberam como é bom ter o próprio dinheiro e não depender de ninguém”.

Apesar de ajudar os pais no roçado desde os 13, cultivando milho, batata e mandioca, foi aos 25 que ela, de ato, passou a trabalhar pegando no pesado com o marido, Severino Francisco. Há quatro anos, entretanto, quando Severino sofreu um acidente e ficou paraplégico, Zefinha vem tocando todo o processo de plantio, cultivo e colheita sozinha. “Não deixei a peteca cair. É a luta pela sobrevivência”, relata. Ela mora em Vitória de Santo Antão, mas, três vezes por semana, sai de casa perto de uma hora da manhã para chegar antes do sol nascer às feiras que participa no Recife, onde vende, entre outras mercadorias, jerimum, cenoura, tomate, cebola e hortelã. Zefinha conta que, no fim do mês, tem uma renda de R$ 2 mil, mas que, diante de todos os gastos com equipamentos, sementes e aluguéis de barracas nas feiras, o que sobra não é muito. “Dá para sobreviver. Não passo necessidade não”, diz, confiante.

A intensificação do lugar da mulher na agricultura e no seio da família do meio rural deu à Maria da Goma, 61 anos, a oportunidade de produzir alimentos e sustentar as seis filhas sozinha. Hoje, a agricultora tem uma pequena produção de feijão verde, macaxeira, batata doce e inhame em Feira Nova. Ela conta que “já nasceu dentro da agricultura”, pois, desde os 7 anos, ajudava o pai cevando mandioca na roça. De acordo com Maria, ela repassa tudo o que sabe para as seis filhas, que querem seguir os passos da mãe. “Elas não pensam em arrumar em prego de carteira assinada não. Preferem trabalhar comigo”, explica.

Maria tem uma renda mensal de cerca de R$ 4 mil a fim do mês, dinheiro que dividido para ela e as seis filhas e que, segundo ela, “d direitinho para que elas tenham uma vida tranquila” Mas nem sempre foi assim “Assim que eu comecei a participar de feiras na cidade grande, há 14 anos, dissera que eu vinha para arrumar marido. Me sentia muito mal” confidencia. “Me diziam que mulher só tinha direito d ficar em casa, atrás de fogão e cuidando dos filhos. Mas mulher de presidente trabalha fora, quanto mais a gente?” diz a agricultora, em tom d brincadeira. Apesar da rotina pesada que levam, acordando todos os dias, às 3h, Maria da Goma carrega o brilho de quem não se arrepende de ter deixado de estudar para s dedicar à terra. “Se antes quando não tinha nada, eu j tinha orgulho do meu trabalho, imagine agora, que meu sustento?”.

Participação ativa no PIB

Este ano ficou marcado como o Ano Internacional a Agricultura Familiar pela NU, segmento responsável por 38% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. O objetivo da homenagem é promover uma discussão obre os desafios dos trabalhadores rurais, que, m Pernambuco, já somam cerca de 270 mil estabelecimentos (famílias). Nesse número, 41 mil são estabelecimentos femininos, u seja, têm a mulher como principal mantenedora da asa. Os dados são do ultimo Censo Agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006. Além do trabalho campal, muitas vezes a mulher rural acumula tarefas como, por exemplo, os afazeres domésticos e o cuidado com os filhos. Entretanto, mesmo sendo o eixo familiar em diversos lares do Estado, a mulher rural ainda é considerada mão de obra barata e sofre discriminação de gênero no trabalho.

Mas há quem não pense de forma preconceituosa sobre o trabalho feminino na agricultura. É o caso de Israel José, 47 anos. Ele conta que grande parte dos trabalhadores que conhece pensava que se dedicar à roça era serviço para homem. “Eles chegavam a dizer que era ridículo”, detalha. Não para Israel. “Hoje, com as mulheres inseridas na agricultura, acho que as coisas são mais completas”, argumenta ele. “Além disso, as mulheres, no geral, são muito mais cuidadosas do que nós, homens. Então elas acabam fazendo o trabalho mais bem feito”, diz, complementando que, passar a trabalhar com a esposa, Aurinete, fez a diferença em todo o processo de cultivo de hortaliças que têm. O agricultor Cícero Pereira, 61 anos, concorda com Israel. “Com as mulheres trabalhando mais, vejo uma diferença na qualidade dos alimentos”, diz o trabalhador.

Notícias